Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)
O último mês do ano litúrgico, isto é, o
mês de novembro, é dedicado às reflexões escatológicas. Somos chamados e
preparar-nos, sem medo, para o momento derradeiro de nossa vida
terrena. Por isso, neste mês, e já vai este pela sua metade, somos
motivados a rezar em favor dos que já foram.
O livro dos Macabeus, na Bíblia, nos
diz: Santo e piedoso costume é o de orar pelos mortos (Mb.12,46).
Rezamos, de forma especial, em todo o mês de novembro, pelos nossos
entes queridos e por todos os que já passaram desta realidade terrena,
privilegiando ainda o dia 2, dia de finados, para tais orações. Nossa
prece por eles é, na verdade, um hino à vida. Nossa fé nos ensina que
não fomos criados para morrer, mas para viver.
Afirma Santo Ambrósio, Bispo de Milão no
século quarto, que a morte não era da natureza, mas converteu-se em
natureza. No princípio, Deus não fez a morte, mas deu-a como remédio.
Pela prevaricação, condenada ao trabalho de cada dia e ao gemido
intolerável, a vida dos homens começou a ser miserável. Era preciso dar
fim aos males, para que a morte restituísse o que a vida perdera. Assim,
o que nos move ao rezar pelos mortos é a certeza de que
ressuscitaremos. Somos impulsionados pela plena convicção de que nossos
mortos não estão aniquilados, mas estão a caminho de Deus, na santa
purificação do purgatório. Certos também somos de que muitos já se
encontram na Casa definitiva do Pai, uma vez que Jesus disse a Dimas no
alto do Calvário: Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso (Lc 23,43). Como
Dimas, muitos outros, pela misericórdia divina, se encontram lá e nós os
chamamos santos, pois já estão na posse perfeita de Deus, imersos na
santidade Dele, único e verdadeiro Santo.
Celebramos a Eucaristia em nossos
cemitérios, pois são lugares santos, onde depositamos respeitosamente os
corpos de nossos irmãos falecidos, santificados pela água batismal. Os
cemitérios são território sagrado, são espaços simbólicos, nos quais
elevamos nossas preces em favor dos que já partiram, celebrando a
vitória da vida sobre a morte, repetindo o que nos diz a carta aos
Coríntios: Onde está a tua vitória, ó morte?! (I Cor. 15, 55). A
Eucaristia é fonte de vida, pois proclama a ressurreição de Cristo,
enquanto esperamos sua volta. Com viva fé, nos celebrações dos finados,
rezamos creio em Jesus Cristo que foi crucificado, morto e sepultado e
ressuscitou ao terceiro dia. Também repetimos com toda a Igreja: O
Senhor, de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os
mortos.
Há, hoje uma cultura da morte
estabelecida, onde se pode enxergar absurdos como assassinatos
praticamente diários, roubos e furtos a mão armada, violência e falta
de segurança, movimentos favoráveis à legalização do aborto, da
eutanásia...
A fé católica é totalmente incompatível
com a cultura da morte, pois ela se baseia na vida que para nós Cristo
conquistou com seu sangue na cruz, ressuscitando ao terceiro dia,
conforme as escrituras.
A ocasião do mês de novembro seja para
nós um canto à liturgia da vida, uma súplica para que o Senhor defenda a
Pátria brasileira das forças que cultuam a morte em lugar de defenderem
a vida.
Somos obra do Criador. Se passamos pela
escuridão da morte, vamos para a claridade infinita da ressurreição, ao
abraço definitivo com Deus que nos criou para viver e não para morrer.
fonte: site da cnbb
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